Você sabia que a violência infantil no Brasil é um grave problema de saúde pública? Ela é uma das principais causas de morte entre crianças e adolescentes a partir dos 5 anos de idade.
Para se ter um parâmetro, em 2019 foi divulgado, pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que diariamente no Brasil é registrada uma média de 233 agressões. Nesses dados estão agressões físicas, psicológicas e tortura contra crianças e adolescentes até 19 anos.
É importante destacar que a violência infantil não consiste apenas em agressões físicas. Ela é muito mais que isso e provoca impacto sem igual no desenvolvimento da criança e adolescente, deixando marcas mentais, emocionais e físicas para a vida adulta.
Assim, são necessárias ações públicas para conscientizar a população sobre esse problema, especialmente quando ele acontece na primeira infância, etapa fundamental para a formação de um adulto pacífico e para a convivência em sociedade. Por isso, desde 2007, no Brasil existe a Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância, que vai de 12 a 18 de outubro.
Veja mais sobre esse assunto neste conteúdo, entenda a importância dessa semana e saiba o que pode ser considerado violência infantil e como agir nesses casos!
O que é considerado violência infantil?
Qualquer ação que viole os direitos da criança e do adolescente, pode ser considerada violência infantil, como:
- Agressão física: incluindo, além de socos e espancamento, a falta de alimentação e de higiene;
- Agressão afetiva: assédio moral, confinamento, restrição ao acesso à escola, negligência e abandono;
- Assédio, violência e exploração sexual, não necessariamente se concretiza com estupro, portanto, muitas vezes, não deixa marca física;
- Trabalho infantil e escravidão.
Além disso, os casos de negligência, muitas vezes, não recebem a atenção merecida, sendo também um tipo de violência e pode deixar marcas mais graves do que a da violência física.
Isso porque os danos psicológicos causados na criança negligenciada atingem tanto o desenvolvimento mental e emocional quanto o físico. Portanto identificar casos de negligência é essencial, e, para isso, é preciso saber no que ela consiste
A negligência significa: “Relação entre adultos e crianças baseada na omissão, rejeição, descaso, descompromisso do cuidado e do afeto e negação da existência”.
Como identificar a violência infantil?
Saber identificar é muito importante para poder ajudar a vítima. Nesse sentido, profissionais com contato constante com crianças e adolescentes, como profissionais da saúde e educadores, devem estar muito atentos a essa situação.
Contudo, todas as pessoas da sociedade devem saber identificar casos de violência infantil para buscar ajuda sempre que preciso.
Veja alguns sinais que podem identificar situações de violência:
- Alterações do comportamento da criança ou adolescente, como agressividade, atitudes destrutivas e/ou suicidas, furtos, timidez excessiva, dificuldade de relacionamento, necessidade extrema de atenção e afeto, queda do rendimento escolar, fobias, pesadelos, fuga de casa, rituais compulsivos, aversão a adultos e sexualização extrema;
- Primeira consulta médica tardia ou levada por pessoas que não são os pais;
- Não querer ser examinada por um profissional de saúde;
- Marcas e machucados em locais não usuais, como pescoço, genitais, nádegas e sangramento ocular;
- Hematomas, fraturas e queimaduras frequentes.
Além disso, o profissional de saúde é obrigado a notificar todo caso de suspeita ou de violência evidente.
A violência infantil acaba sendo agravada pela falta de denúncia e pelo silêncio presente nos lares. O lar é para ser um local seguro para a criança e ao adolescente, mas muitas vezes torna-se um lugar privilegiado para a prática de maus-tratos.
Inclusive, frequentemente, a mãe da criança tem conhecimento ou sente que alguma violência está acontecendo, mas se cala por medo ou por não aceitar essa realidade. Também ocorre de a criança tentar denunciar alguma violência para a mãe, que não acredita ou finge não acreditar para proteger o abusador ou evitar uma cisão familiar.
Ou seja, em diversos casos, a criança que está sendo vítima de violência precisa do olhar atento de pessoas de fora do convívio familiar para que a denúncia seja feita.
O que fazer nesses casos?
Diversas atitudes podem ajudar as crianças e adolescentes que sofrem ou sofreram algum tipo de violência. Veja a seguir:
- Não tenha medo de denunciar diante de qualquer suspeita. A denúncia é anônima por meio do Disque 100, e a ligação é gratuita;
- Não culpe a vítima;
- Mostre que ela não está sozinha;
- Acreditar nos relatos espontâneos é fundamental, principalmente nos casos de crianças que sofrem abuso sexual, pois dificilmente uma criança consegue elaborar uma história falsa de abuso sexual;
- Deixe a criança falar dos seus sentimentos;
- Incentive a procura de ajuda profissional;
- Não crie expectativas que não possam ser cumpridas;
- Reforce as atitudes positivas;
- Incentive a autoconfiança;
- Respeite seu jeito de ser.
Qual a importância da Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância?
Diante do que foi trazido até aqui, fica claro como a Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância é importante. Por meio desse tipo de ação, o poder público divulga informação e alerta a população, para que, cada vez mais, as crianças estejam protegidas contra qualquer ato de violência.
A campanha foca principalmente o período da Primeira Infância, que vai de 0 a 6 anos. Nesse período, a criança está passando por um processo de formação das conexões neurais. Esse processo é influenciado tanto por fatores genéticos quanto ambientais, de modo que eles impactam o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso central.
Isso quer dizer que as experiências que a criança vive durante a Primeira Infância são determinantes para a estrutura neural que vai desenvolver as habilidades socioemocionais, físicas e cognitivas de que ela necessitará para ter uma boa saúde mental e física durante toda a sua vida.
Portanto, é essencial que o ambiente no qual a criança esteja crescendo seja saudável, enriquecedor e sem nenhum tipo de violência.
Em nenhum caso a violência contra qualquer criança se justifica, uma vez que esses pequenos cidadãos dependem dos pais, de seus familiares ou, ainda, do poder público e da sociedade.
Lembre-se: a omissão também é uma forma de violência. Denuncie!
Referências:
https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=781
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/150violencia_crianca.html
https://sp.unifesp.br/epe/caec/noticias/violencia-na-primeira-infancia
Conteúdo produzido pela equipe de Gestão de Saúde da MDS Brasil
Responsável Técnico: Claudio Albuquerque, Diretor Médico da MDS Brasil – CRM 188683